Jornalistas, os cozinheiros

Algumas semanas atrás, a maioria dos jornalistas de todo o país ficou revoltada com a decisão do Supremo Tribunal Federal que aboliu a exigência do diploma de curso superior para a categoria. A medida, em nome da liberdade de expressão, tornou obsoletas todas as escolas de comunicação. Minhas querida amiga Kátia enviou-me um manifesto contra o julgamento do Supremo. Sei que todos que subscreveram o documento têm absoluta razão de indignarem-se com a mais alta corte do país, principalmente depois que o presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, uma figura controversa da República, comparou todos os jornalista a cozinheiro. Mas não dá para levar tudo a sério. Em resposta mandei uma carta para a minha queridona amiga, cujo teor reproduzo abaixo:

Minha amiga querida,
Os jornalistas são responsáveis pela decisão do magnânimo Gilmar Mendes, merecedor da confiança inabalável de honrosos brasileiros como o ilustre senhor Daniel Dantas.Vejamos. Vocês têm por hábito trabalhar na "cozinha" do jornal. "Esquentam" o lead, quando não o deixam por demais "salgado". Fazem um "cozidão" para garantir uma página no fim de semana. Rejeitam matérias "frias". Querem sempre que o "cardápio" da edição seja com matérias "quentes". Mandam o repórter pras ruas e quando ele retorna à redação, indagam se a pauta "deu um bom caldo".
Ora, ser comparado a cozinheiro não reduz os profissionais da imprensa. Pior seria se fossem comparados a certos magistrados e tantas outras autoridades que vivem nos subterrâneos da Justiça (?). O cozinheiro não chancela a impunidade. Não deixa os corruptos soltos para usufruir o resultado do crime praticado e ter uma vida nababesca. Ser cozinheiro ainda é melhor que ser um "maugistrado".
Pela vontade de um cozinheiro, quem pratica o latrocínio não ficaria à solta enquanto couber recurso, ou melhor, chicanas jurídicas. O cozinheiro exige punição para estupradores, pedófilos e outros do gênero.
O cozinheiro não responsabiliza os veículos midiáticos (o termo agora está na moda) por expor os desvios que ocorrem no Congresso e que nutriram por décadas os cofres da oligarquia maranhense e também as de outras origens, inclusive as de Mato Grosso. A condição de cozinheiro tem permitido aos jornalistas reduzir a quantidade de "camarão" de muitas empadinhas. E, melhor, o cozinheiro não faz remessa ilegal de dinheiro para as ilhas fiscais.
O interessante é que a decisão do senhor Gilmar Mendes ocorreu dias depois que os jornais noticiaram os seus gastos. Vocês, jornalistas diplomados, informaram que, em um ano à frente do Supremo, ele consumiu em diárias quatro vezes mais que a ex-presidente Ellen Gracie gastou em dois anos no mesmo cargo. Portanto, depois de guindados à condição de cozinheiros, os jornalistas, agora, só precisam mesmo "assar a batata" do excelentísimo senhor ministro diante da opinião pública.
Bjs amiga querida
BSB, 27 de junho de 2009

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