Ingratidão com a gripe suína

A pandemia de Influenza A, descontadas as lamentáveis mortes provocadas pelo vírus oritundo do México, desempenhou um importante papel político no país, a começar pela eliminação do tradicional surto de dengue, que se repete em cada verão e é uma das maiores tormentas para as autoridades sanitárias e governantes federal, estadual e municipal.
Com a nova gripe, cessaram os noticiários sobre dengue. Passado o período de chuva, sequer houve menção aos casos de hantavirose, outro desassossego para a saúde. Deixando de lado as moléstias sazonais, o vírus H1N1 camuflou também as mazelas do atendimento nas unidades de saúde. Exceto quando ocorre uma morte pela nova gripe, hoje, vivemos num país em que o setor saúde estaria às mil maravilhas.
Enquanto todas as atenções se voltam para o badalado vírus do momento, as autoridades do governo federal jogam pesado para ressuscitar a CPMF (imposto do cheque) que, enquanto existiu, atendeu a todos os interesses e repassou algumas gorjetas à saúde pública. A futura contribuição poderá, em breve, escapar do bolso do contribuinte na forma de regulamentação da Emenda Complementar 29 (EC), que garante muito mais recursos para o Sistema Único de Saúde. As resistências no Congresso Nacional estão sendo mitigadas pelos constantes apelos por mais dinheiro para enfrentar a nova gripe. Às vésperas de ano eleitoral, governadores e prefeitos ficam de cabelo em pé só em imaginarem que mais alguém pode morrer por causa de uma gripezinha. Nem mesmo a violência urbana assusta tanto.
Há de se convir que a Influenza A, de baixa letalidade, corre o risco de ganhar espaço nobre na história da saúde pública. Além de matar as doenças sazonais, com forte impacto político, ainda será capaz de elevar o volume de recursos para saúde de um modo geral. Assim, não dá para falar mal da gripe suína, gente ingrata!

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