Desumanização

O caos na saúde pública, principalmente no Distrito Federal, é incontestável.Faltam profissionais, leitos, medicamentos e tudo mais que o cidadão mantenedor do Estado precisa para ter uma assistência digna quando o seu bem maior está ameaçado: a vida.
As autoridades alegam que a demanda é muito superior a capacidade instalada. Boa parte dos profissionais aprovados em concursos públicos rejeita o posto, sob a justificativa de que os salários pagos pelo poder públicos são insatisfatórios e não compensam pela jornada e nem cobrem o investimento feito, durante antes, para chegarem à conclusão do curso de medicina. Seguem em busca de uma colocação nos estabelecimentos particulares, abrem seus próprios consultórios e traçam, a partir daí, uma trajetória voltada ao sucesso financeiro.
A humanização dos serviços de saúde ―ideologia do período de faculdade ― perdeu o sentido. O objetivo é estabelecer um nome na praça e acumular riqueza. Os valores cobrados tornam as consultas proibidas para a maioria dos necessitados de atendimento. Humanização? É uma questão dissociada da realidade. Mas a sua ausência doe tanto quanto a enfermidade que debilita as pessoas.
Hoje, não são apenas os adultos que se tornaram vítimas desse sistema, no qual não cabe a expressão humanização. As crianças também não são poupadas. Os médicos da iniciativa privada exigem, no mínimo, R$ 90 para atender uma criança que, diferentemente da maioria, tiveram a sorte de os pais poderem pagar um plano de saúde. Não que seja fácil ter um plano de saúde. Ao contrário. Manter esse luxo, diante do sucateamento da saúde pública, impõe abrir mão de vários outros bens e prazeres que, por menor que sejam, tornariam a vida mais agradável e, quem sabe, saudável.
No embate entre profissionais, clínicas e administradoras de planos de saúde há algo irrecuperável depois de perdida: a vida. O conflito expõe a irracionalidade despertada pela ambição monetária e coloca em xeque o compromisso dos profissionais de saúde com a vida.

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