Conta para gerações futuras

As previsões são as mais pessimistas. Os estudiosos prevêem que, mantido o atual ritmo de agressão, o Cerrado estará extinto em 2050. Ou seja, daqui a 40 anos, o bioma existirá apenas em documentários, fotografias e na memória daqueles que tiveram o prazer de conhecê-lo, lutar e chorar a sua destruição. As gerações futuras, filhos e netos dos atuais agressores, pagarão o preço do avanço irracional da degradação, impulsionado pela ganância econômica. O preço será muito alto. O lucro de hoje significará a perda da vida amanhã ― sem fatalismo ou sensacionalismo barato.

Os constituintes de 1988 negaram ao Cerrado e à Caatinga a condição de patrimônio nacional dada a outros biomas, como o Pantanal, Mata Atlântica, Amazônia. No caso do Cerrado, a exclusão ocorreu muito mais por motivação econômica do que por desconhecimento da sua importância para a vida no país. À época ainda prevalecia a orientação do regime autoritário contida no slogan “prá frente Brasil”, em que o fundamental era expandir as fronteiras agrícolas. O alvo era o Cerrado, cujas árvores tortas e de baixa estatura poderiam ser dizimadas. A senha para a destruição do Cerrado estava dada e o acesso a essa chave tinha uso indiscriminado.

Desde 1995 ― sete anos depois de promulgada a Constituição ―, o Congresso Nacional se deu conta da necessidade de incluir o Cerrado e a Caatinga no rol dos biomas patrimônios nacionais. Mas apenas se deu conta. Lá se vão 14 anos, desde que o ex-deputado Gervásio Oliveira (PSB-AP) apresentou a Proposta de Emenda à Constituição 115/95. A PEC passou por todas as comissões, ganhou emendas, entrou e saiu da pauta de votação. Mas, de concreto, apenas a falácia dos parlamentares. Como a maioria está sempre às voltas com denúncias e escândalos, parece não ter tempo para as questões de amplo interesse público e se dedicam a salvar própria pele de um dos melhores empregos do país, com vantagens que lhes assegura uma vida nababesca.

Mas se há algo que a humanidade não pode prescindir para viver é a água. O nosso corpo é a expressão maior dessa necessidade. O líquido corre nas nossas veias, faz pulsar nosso coração. O Cerrado abriga as nascentes das principais bacias hidrográficas do país, como as dos rios Amazonas, São Francisco e do Paraná/Paraguai. É no Cerrado que está a grande extensão do Aquífero Guarani, a maior reserva de água doce subterrânea do mundo.

Será que dá para ignorar essa realidade indispensável à vida? O que será feito com o lucro alcançado com a destruição do Cerrado se não houver vida? Atualmente, mais de 20 milhões de pessoas moram nesse bioma.

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