Justiça pela metade

Em votação secreta, a Câmara Legislativa cassou, por 16 votos a 3, o mandato da distrital Eurides Brito (PMDB). Por muitos, ela era identificada como vovó metralha, depois da farta divulgação do vídeo no qual é vista recebendo maços de dinheiro de Durval Barbosa, pivô da abertura da Caixa de Pandora.
A cassação de Eurides Brito pode ser entendida como uma vitória em meio aos descalabros que dominam a estrutura de poder do Distrito Federal. Mas a justiça está incompleta. E os outros distritais citados pelo delator Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do governo, e que ainda hoje estão desfrutando das mordomias da Câmara Legislativa? Eles ficaram impunes? Nesta quinta-feira (24/6), os jornais virão com a informação de que o destino de pelo menos cinco deles será o conforto da impunidade. E não poderia ser diferente: se todos os envolvidos fossem punidos, não havaria nenhum debate sobre intervenção no DF. As instituições locais estariam fechadas por falta de quorum.
Intervenção
Nos próximos dias, o Supremo Tribunal Federal deverá avaliar o pedido de intervenção na capital federal apresentado pelo Ministério Público Federal. Um fato inédito na história da República. A maioria dos setores econômicos organizados é contrária a drástica medida. A lógica desses setores está sustentada na troca de favores com o poder distrital.
Não é preciso um estudo profundo para constatar que a cada licitação as vencedoras são sempre as mesmas. Não faz muito tempo que uma operação policial desmontou um esquema de combinação de resultados envolvendo pequenas empresas do DF para conquistar as obras das administrãções regionais.
A (im)própria Caixa de Pandora deixou claro que a combinação no caso da compra de votos dos distritais envolvia também as empresas dos distritais. Elas estão dentro da administração distrital nos serviços de segurança dos órgãos públicos, de limpeza e até na terceirização de atividades sob responsabilidade das estatais. E não fica somente nisso: os amigos do poder locam equipamentos e veículos à administração pública distrital, sob o argumento de que a manutenção ficaria mais oneroso aos cofres do estado. Porém o tamanho da economia (se é que ela existe) não é revelad à sociedade.
A intervenção não interessa a nenhum desses setores da economia e muito menos aos veículos de comunicação, com raras exceções, cujo faturamento está viceralmente vinculada à propaganda governamental.
Caso o STF decida trafegar em via oposta a do Ministério Público, os brasilienses continuarão a pagar, e alto, a conta do desmando que se instalou na capital da República. Guardadas as devidas diferenças, seremos uma espécie de eurides pagando o pato para o banquete dos mesmos. Uma punição aqui, outra acolá e nada vamos consolidar a pecha de capital da safadeza desmedida.
Zulmira Quinté

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