Brasil com menos fome, mas ainda desigual

Imagem: Internet || site Jornalistas Livres


Um Brasil menos miserável. Foi assim que o país chegou em 2023, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) — Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2023 —, divulgado ontem. Em 2021, 67,8 milhões de pessoas (36,7% da população) estavam na pobreza, e esse contingente diminuiu em 10,2 milhões (31,6%) — queda de 5,1 pontos percentuais.

Pode-se atribuir a redução ao momento político de 2022, devido às eleições gerais. Nesses momentos, os detentores e ocupantes dos postos relevantes nas esferas dos Poderes tornam-se mais generosos com os cidadãos, dos quais dependem para se manterem no cargo, por meio de políticas públicas eventuais.

Ocorreu também uma redução do número de brasileiros em situação de extrema pobreza, passando de 12,7 milhões para 6,5 milhões. No ano passado, entre as pessoas com até 14 anos de idade, 49,1% eram pobres e 10,0%, extremamente pobres. Ou seja, crianças e adolescentes viviam em piores condições no país.

Em 2021, o salário mínimo era de R$ 1.100. Entretanto, estudo mostra que 9% brasileiros em extrema pobreza viviam com menos de R$ 200 por mês, ou um quinto do mínimo. Aqueles em situação de pobreza (36,7%) tinham renda de até
R$ 637 mensal. Valores insuficientes até mesmo para a alimentação dos cidadãos.

No recorte raça-cor, pretos e pardos somavam 40% dos pobres — o dobro dos brancos (21%) afetados pela pobreza. A situação mais grave estava nos lares onde o sustento era de responsabilidade de mulheres negras, sem companheiro ou marido, e com filhos menores de 14 anos: 72,2% eram pobres e 22,6%, extremamente pobres.

Os dados do estudo dão nitidez ao preconceito e ao racismo que permeiam a sociedade brasileira e são os balizadores da injustiça socioeconômica. Em 2022, os trabalhadores brancos tinham rendimento-hora 61,4% superior ao de pretos e pardos, respectivamente R$ 20 e R$ 12,40. Dependendo do grau de escolaridade, a maior diferença se dava entre os profissionais de nível superior: R$ 35,30 para brancos e R$ 25,70 para pretos ou pardos.

Regionalmente, no Nordeste, 43,5% da população estava na pobreza, e 54,6% na extrema pobreza. Na região Norte, 12,8% eram pobres e 11,9%, em situação extrema. O Sudeste, o mais desenvolvido do país e o que abriga 47% da população brasileira, 30,7% estavam na pobreza e 23,8% na extrema pobreza.

Embora a fome tenha diminuído no Brasil, os dados do IBGE revelam que o país está muito longe de garantir igualdade e paridade na sociedade em todos os setores. O número de brasileiros sem acesso à alimentação de qualidade e em quantidade suficiente se revela absurdo, uma vez que o país está entre os maiores produtores de gêneros alimentícios do planeta, que têm lucros crescentes a cada safra.

Tão ou mais grave é a parcela de crianças e jovens fora das escolas, pelos mais diversos motivos, que vão desde a pobreza extrema até a falta de meios ao acesso às unidades de ensino. Se os deficits de escolaridade e formação profissional não forem superados, o Brasil não vencerá os obstáculos ao seu desenvolvimento nem à eliminação das desigualdades sociais e econômicas. Ficará estacionado na condição em que se encontra: país em desenvolvimento.

[Editorial, Correio Braziliense, 7/12/2023]

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