Malditas brechas

As mobilizações populares arrebanharam milhões de brasileiros nas principais cidades do país. Exceto pela ação inescrupulosa de vândalos, as manifestações foram perfeitas. Sacudiram os poderes da República. O Executivo federal parou e viu que o mote ia muito além dos R$ 0,20 a mais na tarifa do transporte público. A presidente da República, até então distante, falou à nação e propôs um pacto, cujo desfecho é preciso esperar, pois as tentativas feitas no passado morreram na concepção. O Congresso Nacional, sempre muito envolvido com interesses rasteiros de grupos e totalmente dissociado da realidade dos eleitores, voltou o olhar para a movimentação incomum dos jovens e tratou de trabalhar.

A Câmara rejeitou a PEC 37, que eliminava o poder de investigação do Ministério Público Federal; dividiu os royalties do petróleo entre a educação e a saúde (serviços falidos no país); e o Senado aprovou, como celeridade incomum, projeto que torna hediondo o crime de corrupção.  Não bastassem, os deputados anunciaram que vão desconsiderar o insano projeto que dispõe sobre a cura (?) dos homossexuais. Divergências à parte, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário estão empenhados em promover a tão reclamada reforma política.  A Justiça decretou a prisão de um deputado em pleno mandato.

Todo esse conjunto de ações está longe de ser satisfatório. A resposta rápida dos poderes às cobranças do povo exige atenção redobrada dos cidadãos. Não é por falta de leis, repetem as autoridades e juristas, que o país não anda como deseja a maioria das pessoas. Existem as malditas brechas legais que permitem todos os tipos de falcatruas e asseguram a impunidade dos autores.

Entre todas as providências, a mudança na regra do jogo político emerge como a mais urgente, levando em conta o pleito de 2014. A assepsia congressual deve ser prioridade número 1 da sociedade, a fim de eliminar qualquer possibilidade de  brechas que guindam ao poder indivíduos sem qualquer compromisso com o coletivo, mas que são hábeis em agir em favor de facções. É essencial  evitar lacunas que permitam escoar para o vazio o diálogo aberto, ainda que forçado, com os poderes, sob pena de se perder as rédeas de um processo que poderá propiciar alterações verdadeiras nas relações entre o Estado e os cidadãos.
(Publicado na edição de hoje (28/6) do jornal Correio Braziliense)

Comentários

Postagens mais visitadas