Longe do fim

Foto: Gustavo Gantois / Terra
Quem são os líderes desse movimento? Com quem devemos discutir a pauta de reivindicações? Nada disso pode se dar apenas por conta de um aumento de R$ 0,20 na tarifa do transporte público. Autoridades e instituições se viram perdidas. Elas sabem que a realidade da maioria da população é cruel. Mas, e daí, sempre foi assim.

Não deram importância ao alerta feito em Goiânia. Atribuíram aos baderneiros a primeira manifestação em São Paulo. A polícia rechaçou com violência a passeata ocorrida em Brasília, na abertura da Copa das Confederações. Mas tudo mudou de figura com mais de 100 mil nas ruas do Rio de Janeiro. As luzes de advertência se acenderam quando número igual ou superior parou novamente a capital paulista. A tomada pelo Congresso Nacional foi algo inesperado (foto).

Vários veículos de comunicação recuaram no tratamento original dispensado às manifestações. Isolaram os violentos e exaltaram o comportamento não agressivo da maioria. Mas as câmeras deram mais atenção às atitudes condenáveis, o que permite expandir a lista de indagações. Por que os bombeiros não foram acionados imediatamente para conter o incêndio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro? Por que, em uma área cheia de policiais, nada foi feito para impedir que os vândalos ateassem fogo no carro de uma emissora de tevê? Ainda que rejeitemos a teoria da conspiração, ela insiste em ser uma pulga atrás da orelha, vez por outra a aguçar uma coceirinha.

O Movimento Passe Livre não é novo. Já tem uns bons anos de estrada. Mas, somente agora, R$ 0,20 foi senha para o levante popular. O que se vê nesses dias é algo inusitado, que cabe somente em um cenário democrático. Os jovens da classe média se somaram aos menos privilegiados, para os quais qualquer centavo faz muita diferença no orçamento arrochado. As autoridades recuaram, mas, como sempre, advertem para a necessidade de sacrificar os investimentos públicos. Poupam o poder econômico em detrimento da maioria. Suspeito que esse movimento ainda tem muito a ensinar ao país.
(Artigo publicado na edição de hoje (21/6) do Correio Braziliense)

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