A camiseta e a rejeição

No feriado de Corpus Christi, entrei em uma loja especializada em massas, no Lago Sul. Olhava as prateleiras, em busca de algo delicioso para o jantar. A minha indolência, no entanto, permitiu que eu presenciasse uma cena triste em relação à Brasília, mas interessante do ponto de vista político e prova de que as pessoas não estão indiferentes às atitudes dos governantes. Um jovem, bem mais decidido, conclui rapidamente as compras, pede a conta, saca o cartão e pede à atendente para pagar a despesa.

Ela muito gentil, pergunta: — Crédito ou débito?
— Crédito, por favor.  — diz o jovem

Realizada a operação, a atendente, não se contém e faz um comentário sobre a camisa do jovem: — Já se foi o tempo em que eu adorava essa camiseta. Hoje, tenho dúvidas se não seria melhor para a cidade.

Na camiseta do jovem estava escrito: “Fora corrupto”, uma referência a um ex-governador que abusou da possibilidade de trapacear com o dinheiro público e chegou a passar mais de dois meses hospedado em uma cela da Polícia Federal.  Episódio inédito na capital da República. E a punição somente ocorreu após a exibição de uma série de vídeos que expôs parte das vísceras de um megaesquema da roubalheira dentro do poder.

Ao tempo em que é triste testemunhar alguém ter saudade de um corrupto notório, não há como lamentar a rejeição a um governo que, apesar de ter uma coloração partidária de esquerda, frustrou todas as expectativas de uma cidade. Aliou-se a uma facção dissidente do “corrupto” mencionado na inscrição da camiseta, e segue, a passos largos, cometendo desatinos (a favor do seu bolso) com a chamada “coisa” pública. Inverte prioridades: monumentos gigantescos em lugar de saúde e de educação.

Comentários

Postagens mais visitadas