Um racista na Comissão de Direitos Humanos da Câmara

Lamentavelmente, a Câmara dos Deputados se mostrou distante dos interesses da sociedade brasileira, sobretudo, das parcelas que, comumente, são chamadas de minorias — homossexuais, negros, indígenas. Nessa terça-feira, o PSC/São Paulo aprovou e indicou para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara o deputado Marco Feliciano, pastor neopentecostal, homofóbico e racista. Eleito com pouco mais de 211 mil votos, ele conquistou notoriedade por via transversa, após publicar no Twitter a seguinte mensagem: “Os africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé”, ou seja, os negros são malditos.

Mais recentemente, em um debate na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, Marco Feliciano declarou: “Índio nasce índio, não tem como mudar; negro nasce negro não tem como mudar; mas quem nasce homossexual pode mudar. Até a palavra homossexual deveria ser abolida do dicionário, já que se nasce homem ou mulher”.

Não se pode nem há motivos para se mudar origem ou a opção sexual das pessoas. Diferentemente dos valores cultivados por Marco Feliciano, a qualidade e o caráter de um indivíduo não se avalia pela origem étnica ou pela sua sexualidade. A contribuição de negros e homossexuais não é discriminada nas urnas eleitorais.  Nenhum voto é amaldiçoado, mesmo que seja dado ou por um negro ou por um gay.

Hoje, os demais integrantes da Comissão de Direitos Humanos deverão ratificar a escolha do PSC paulista. Esse parlamentar, que tem o racismo como o traço mais visível do seu perfil, estará à frente de um fórum legislativo que debate os direitos humanos em nível nacional. Entre as muitas aberrações produzidas pelo Congresso Nacional, essa tem uma coloração assustadora para um país que se diz racialmente democrático. É mais um gesto de violência, tal qual a intolerância religiosa estimulada e praticada pelos neopentecostais, facção religiosa de Marco Feliciano, contra parcela majoritária da sociedade. Conforme o último Censo do IBGE, os afrodescendentes somam cerca de 52% da população brasileira.

O segundo parlamento mais caro em um universo de 110 nações, provavelmente, é o campeão em conspirações contra os interesses da sociedade que o alimenta para que seus pares desfrutem de uma qualidade de vida, antes inimaginável para a maioria deles. Atualmente, sem contar com as verbas de gabinete, passagens aéreas, despesas de correios, carro, combustível e outros benefícios, um deputado ganha mensalmente R$ 26.723,13, quantia 39 vezes superior ao salário mínimo vigente (R$ 678). Em retribuição, a Câmara avilta a cidadania, sobretudo do conjunto que se convencionou chamar de minoria, mas que está longe de merecer esse rótulo.

Comentários

Postagens mais visitadas