Pureza e ingenuidade do ecologista de verdade

Há uns quatro ou cinco dias, recebi um e-mail de uma amiga (Melhor amigona.) com um profundo desabafo de um ecologista, daqueles preocupados de verdade com os destinos da cidade, que tecia críticas severas a um dos grandes empreendimentos imobiliários da capital, o bairro Noroeste. Supostamente, garantem o governo e os empresário, o futuro setor habitacional será o primeiro realmente ecológico do país.
O ecologista verdadeiro propunha para a minha amiga jornalista que tentasse fazer com que um veículo de comunicação produzisse uma ampla reportagem sobre o tema, colocando às claras os danos ambientais que o bairro ecológico provocará na capital, com graves comprometimentos da qualidade de vida.
Quando li todo o manifesto do ecologista, fiquei surpresa. Ele é puro ou ingênuo? Ou será uma mistura das duas coisas? Supor que um jornal de Brasília ousaria atacar e expor a verdade sobre um empreendimento imobiliário apoiado pelo Executivo aos leitores, no mínimo, é um mix de ingenuidade com pureza. É padecer de amnésia em relação à composição do comando do governo local, que tem uma face empresarial do ramo.
É desconhecer que os veículos de comunicação comem na mão dos poderes. Faz parte de um tempo jurássico o idealismo como elemento propulsor da máquina do jornalismo. Em algumas situações, as manchetes aparentemente ousadas são resultados de acertos políticos, de acordos de conveniência. Algo um pouco parecido com um jogo de sinuca: acerta-se a bola A para atingir a B e, ao final, encaçapar a C, o verdeiro alvo.
Jornal, rádio ou TV são produtos, com espaços privilegiados para os anunciantes, que financiam o giro da máquina. Qual empresário, em sã consciência, implodiria uma relação com os financiadores?
Então, trazer à tona o que ocorre na capital da República em termos de avanço e crescimento do setor imobiliário seria o mesmo que lacrar a mina de ouro ou trocar a opulência por uma vida franciscana.
O ecologista correto não se deu conta desses detelhes editorias e que fazem toda a diferença. Ignorou também a falta de compromisso do governo com o patrimônio ambiental da cidade. Ora, se o Executivo voltou as costas ao plano urbanistíco que deram à capital o título de patrimônio cultural da humanidade, por que teria comportamento diferente com o patrimônio natural?

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