Saúde bucal exige mais atenção
A série intitulada Saúde da boca para dentro, publicada pelo Correio desde domingo e que chega, hoje, à última reportagem, revela que um dos maiores estudos sobre perda de dentes e mortalidade foi feito por pesquisadores chineses, na Coreia do Sul, com mais de 220 mil pessoas acima de 40 anos. Elas foram divididas em grupos conforme o número de dentes perdidos. Uma das conclusões foi de que aqueles com mais de três dentes perdidos corriam o risco de mortalidade por todas as causas 1,9 vez maior em relação aos que tinham a dentição conservada.
Pesquisadores brasileiros vêm avançando em estudos do tipo. O cirurgião-dentista João Palmieri afirma que, "hoje, sabemos que a mastigação de determinados alimentos aumenta tremendamente o fluxo sanguíneo, um aumento de 20% na irrigação no cérebro", principalmente na região denominada hipocampo, responsável pelo armazenamento da memória, e da amígdala, que está relacionada às emoções. A hipótese é de que problemas de dente estejam ligados a complicações cognitivas.
Por muito tempo, o Brasil levou a pecha de país dos desdentados. A perda dos dentes era compensada com próteses, reconhecidas como dentaduras. Até então, a recuperação por implantes dentários não existia. Quando surgiu a técnica, ela estava ao alcance de quem tinha bastante dinheiro, e ainda segue proibitiva aos menos abastados. De acordo com os dados Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, 34 milhões de brasileiros com mais de 18 anos tinham perdido 13 ou mais dentes, e 14 milhões não tinham nenhum. O edentulismo era a realidade para mais de 40% dos idosos. Apesar da gravidade, hoje, não há dados atualizados sobre o tema.
A saúde bucal se tornou política de Estado em 2017, com o surgimento do Programa Nacional de Saúde Bucal (PNSB), que incorporou o programa Brasil Sorridente, lançado 13 anos antes pelo Ministério da Saúde. Esse cuidado foi negligenciado ao longo da história no país que tem o maior número de odontólogos do planeta. Neste ano, o PNSB conta com um orçamento de R$ 4,3 bilhões para investimentos, conforme anunciou o Ministério da Saúde.
O programa garante limpeza, extrações, exames em geral para avaliar a necessidade aparelho ou identificar câncer bucal, restauração dentária, remoção de tártaros, extração dos dentes sisos, implantes dentários, tratamento de cáries, ortodontia, tratamento de canal e até biópsia ou periodontia. Mas é preciso que a população seja orientada e saiba onde estão as clínicas credenciadas pelo SUS e que essas instalações funcionem de fato. Assim como as crianças precisam ser orientadas sobre os cuidados com saúde bucal desde cedo para que o passado deixe de ser algo do presente de milhões de jovens e adultos.
[Editorial, Correio Braziliense, 24/9/2024]
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