Poluição plástica desafia o Brasil
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O cenário pode ser ainda pior. Na opinião do geólogo e pesquisador do Centro de Pesquisa da Petrobras Marcos Moraes, parece pouco provável que o Brasil dê destino correto a 8 milhões, das 11 milhões de toneladas de produção de lixo, como indica a pesquisa britânica. Ao Correio, Moraes reconhece que o mapeamento do estudo será útil para o Tratado Global do Plástico, em preparação pela Organização das Nações Unidas (ONU), por "trazer uma referência sobre como e onde atuar" para resolver o problema.
Só em 2020, 30 milhões de toneladas foram queimadas, sem qualquer controle ambiental, em ruas e lixões dos países estudados — foram coletados e analisados dados de gerenciamento de resíduos em mais de 50 mil municípios, incluindo Brasília, Belo Horizonte, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Essa opção está entre as piores para o descarte, pois afeta a saúde humana, com riscos de desenvolvimento de defeitos neurodesenvolvimentais, reprodutivos e congênitos, alertam os pesquisadores.
Além dos riscos à saúde, a queima de lixo é perigosa sobretudo no período de estiagem. Basta uma faísca para provocar um enorme incêndio, com consequências imprevisíveis. No Brasil, onde cerca de 1,9 milhão de pessoas não têm acesso à coleta de lixo, incinerar é uma escolha. Quando não, a saída é descartar o plástico em áreas abandonadas ou nos rios.
A conclusão da equipe britânica — de que a destinação do lixo plástico é péssima e faltam indícios de reciclagem sustentável — deve ser entendida como uma condição de urgência para o Brasil. Se o país é líder mundial na reciclagem de alumínio, a de latas chega a 99%, o que está esperando para fazer o mesmo com os plásticos?
Anfitrião da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) no próximo ano, em Belém (PA), o país tem a responsabilidade de exibir ao mundo um país efetivamente comprometido com as causas ambientais, por meio de políticas públicas. Para isso, há de se resolver questões como grave carência de educação para a preservação do patrimônio natural, precariedade na coleta de lixo, falta de saneamento básico e descuido com a preservação das praias, afetadas pelos resíduos plásticos que desembocam nos oceanos.
Essas e outras providências não são atribuições exclusivas do governo federal, mas também dos prefeitos e governadores. Meio ambiente, saúde e educação não têm ideologia política, mas são indispensáveis ao bem-estar de toda a sociedade.
[Editorial, Correio Braziliense, revisado pela editora Carmen Sousa, 8/9/2024]
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