É isso que queremos no Brasil?


Hoje (1/10), a maioria dos espectadores e internautas teve a atenção voltada para mais uma barbárie nos Estados Unidos. No Oregon, um jovem de 21 anos, armado, matou pelo menos 15 pessoas e feriu mais 20, na Universidade Comunitária Umpqa, na cidade de Roseburg. Na Terra do Tio Sam, a compra de armas é franqueada a qualquer pessoa. Não há restrições, como as previstas no Estatuto do Desarmamento, em vigor no Brasil. Episódios do gênero são recorrentes. Jovens, adultos armados infelicitam dezenas ou centenas de famílias, seja porque tiveram um surto, seja porque premeditaram a tragédia. No fim, o protagonista é morto ou se suicida.


Por um instante, vamos imaginar que o Brasil adote a mesma liberalidade norte-americana. Qualquer um poderá chegar à loja e comprar arma de fogo, da mesma forma que adquiri um sapato, roupas e apenas apresenta a Carteira de Identidade, se a compra for no cartão de débito o crédito. Das 27 capitais brasileiras, 19 estão na relação das 50 cidades mais violentas do mundo. A cada meia hora, uma pessoa é vítima de homicídio nas capitais do país. 


Da mesma forma que entendemos que, no jardim do vizinho, as flores são mais viçosas, seria prudente refletir sobre como se comportariam os brasileiros se cada um, a partir de 21 anos, pudesse portar uma ou até três armas de fogo. Talvez nossas flores, ainda que menos bonitas, seriam insuficientes para as últimas homenagens aos mortos. 

Mapa da Violência

"No período compreendido entre os anos de 1980 e 2012, a população teve um crescimento em torno de 61%, as mortes matadas por arma de fogo cresceram 387%, mas entre os jovens esse percentual foi superior a 460%. Em outras palavras, mais jovens morrem por armas de fogo, apesar da redução inicial provocada pela aprovação do Estatuto do Desarmamento. E a gravidade se torna ainda maior quando se sabe que, em sua maioria, são os jovens  negros  as  vítimas  dessa  escalada. Racismo, violência e impunidade se associam na degradação do ambiente social brasileiro", informa o Mapa da Violência 2015 — Mortes matadas por arma de fogo

No mesmo período (33 anos), mais de 880 mil pessoas morreram por disparo de algum tipo de arma de fogo. O estudo mostra ainda que o Brasil dispõe de enorme arsenal: 15,2 milhões em mãos privadas; 6,8 milhões registradas; 8,5 milhões não registradas, sendo 3,8 milhões em mãos criminosas.


Em solo brasileiro, a média nacional é de 25,2 mortes por arma de fogo em cada grupo de 100 mil pessoas. Diante da gravidade dos números, a lógica seria exigir do Estado o desarmamento radical de toda a sociedade. Na vitrine, a arma não mata ninguém. Quando rompe essa barreira e chega às mãos criminosas, as tragédias são inevitáveis.


Mas cerca de 87% da população brasileira teriam aprovado a decisão da Câmara de reduzir a maioridade penal. Uma suposta maioria também seria favorável à revisão do Estatuto do Desarmamento, que prevê punição a quem porta arma sem a devida permissão. A Bancada da Bala, naquela casa legislativa, está empenhada em atender aos anseios da indústria bélica cujo lucro está associado à morte. 

Quem lucra com a morte

O noticiário destaca as infrações dos adolescente, os embates entre policiais e traficantes nas favelas do Rio de Janeiro, os arrastões nas praias, os latrocínios em locais perigosos, por total ausência de infraestrutura ou ignorados pelos agentes públicos de segurança. Todos esses elementos levam à sociedade a gritar por punições mais rigorosas para os bandidos. Mas o mesmo noticiário não leva as pessoas a refletirem sobre como seria melhor se o Estatuto do Desarmamento fosse cumprido com o rigor exigido. A tragédia vende jornal, eleva os índices de audiência e, assim, atrais mais anunciantes. Em resumo, a morte dá lucro.

O que é recorrente nos Estados Unidos poderá chegar ao nosso país, caso seja franqueada a compra de armas. São muitas as tragédias de pessoas com porte de arma que são executadas pelos marginais. Não bastasse, essa arma é levada pelo bandido e será usada para vitimar mais pessoas. Será que ter uma arma é sinônimo de segurança? Significa elevar o padrão de desenvolvimento? Ter uma legislação como a dos Estados Unidos representará uma conquista para os brasileiros ou aumentará a nossa vulnerabilidade ante os criminosos, deixando todos suscetíveis à ação violenta dos infratores?

Foto:Yost/Roseburg News-Review via AP/Internet

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