A mulher que tem um pulmão

Rosane Garcia

A pneumonia está entre as principais causas de morte de crianças e de adultos com 60 anos ou mais. É uma doença grave, que, em 2010, levou mais de 200 mil pessoas à internação hospitalar. Agora, imagina o que não ocorrerá se a pessoa tiver apenas um pulmão. Essa é a situação da mãe de um colega, que, desde sexta-feira, sofre por falta de tratamento adequado na rede pública de saúde do Distrito Federal.

Por orientação dos médicos do Hospital do Guará, os filhos recorreram à Justiça e obtiveram liminar, que determina ao Governo do DF a colocação da senhora de 66 anos, que tem apenas um pulmão, em unidade de terapia intensiva. Não há vagas. À frente dela, há nove pessoas à espera por leito da UTI. 
A dedicação dos profissionais do Guará é insuficiente para forçar o recuo da doença. A senhora de 66 anos agoniza. O único pulmão sangra desde domingo. Na unidade do Guará, faltam equipamentos para a realização de exames que revelem o estágio da doença e sinalizem qual as medicação e medidas terapêuticas necessárias.

Na rede privada, conveniada com o Sistema Único de Saúde, há vagas. Mas todas as clínicas e hospitais particulares rejeitam a paciente, apesar da determinação judicial. Os estabelecimentos se insurgem e argumentam que o Governo do DF está inadimplente e o valor da conta é alto. Temem o calote, ainda que uma vida esteja em jogo. Ou seja, o regime é capitalista, e ser selvagem, insensível e insano faz parte do sistema. Além disso, a impunidade diante da morte está garantida.

O GDF não responde aos apelos das famílias ― isso mesmo, plural, pois são inúmeros os casos de não atendimento. Mas há explicação: não estamos em período eleitoral. Quem sabe quem é quem no atual governo? Ninguém. Sabe-se apenas que é gente (pressupõe-se) envergonhada diante da inércia e do desgoverno.
(Texto publicado originalmente no Facebook, em 10Jun15)

P.S. - Poucos minutos após a publicação do texto, por meio de um telefonema soube que a senhorinha tinha conseguido uma vaga na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário de Brasília, por intervenção de uma enfermeira.

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