Trânsito: ostentação e tragédia


O elevado poder aquisitivo do brasiliense é muitas vezes confundido com bem-estar. Um forte indicativativo deste equívoco está na matéria publicada hoje (13/2) no jornal Correio Braziliense revelando que a frota de carros cresceu cinco vezes mais do que a população nos últimos 10 anos. Para 2,46 milhões de pessoas há 1,23 milhão de carros. Esse crescimento vertiginoso do número de veículos particulares no Distrito Federal decorre da inexistência de uma política adequada de transporte público, que considere o traçado da cidade e às demandas da sociedade. O impacto dessa omissão dos sucessivos governos, sempre subservientes aos interessses dos empresários do setor de transporte, começa aparecer para desconforto de todos, independemente da classe social.
Nas cidades dos países civilizados e com governos comprometidos com o bem-estar dos cidadãos, conscientes dos  dramas que afetam o planeta, como poluição, aquecimento global, escassez de água, lixo e outras ações antrópicas negativas à vida, há uma preocupação crescente em oferecer transporte público de qualidade. As pessoas preferem e exigem esse serviço, por estarem igualmente conscientes de que a emissão de gases é nefasta, que o estresse do trânsito compromete o seu desempenho intelectual e profissional.
Mas em Brasília, cidade símbolo da modernidade, o tema é tratado com absoluto descaso. Os cidadãos são apenas detalhes para um Estado que vive emaranhado em escândalos de corrupção, improbidade administrativas e outras falcatruas políticas.
Esbanja-se ostentação com a chegada às ruas dos mais novos e arrojados modelos da indústria automobilística.  Mas todo esse conforto é anulado pelo estresse dos engarrafamentos diários, pela irritabilidade com a falta de vagas nos estacionamentos públicos. O desconforto tende a se agravar com a emissão de gases poluentes e de efeito estufa, que comprometem a qualidade de vida de toda a sociedade, e a perene omissão do poder público frente aos danos que superfrota causa aos cidadãos, que alimentam os cofres do Estado. Tão importante quanto uma solução eficiente para o transporte coletivo é a revisão dos percursos. Hoje, os roteiros traçados pelas empresão são excludentes. Milhares de trabalhadores das áreas nobres são tratados como cidadãos de quinta categoria. Isso precisa ser revisto pelas autoridades. Afinal de contas, elas existem para garantir tratamento equânime aos cidadãos de uma cidade.

Comentários

Postagens mais visitadas