Educação contra as desigualdades

Uma virada de página na realidade nacional depende muito da educação aliada aos avanços tecnológicos e de políticas públicas inclusivas voltadas especialmente para os jovens


Os jovens de 15 a 29 anos fora da escola e do mercado de trabalho somaram 10,3 milhões, segundo a pesquisa Síntese de Indicadores Sociais 2023, do Instituto Brasileiro Geografia e Estatística (IBGE). O números dos nem-nem, como são chamados, é o menor da série histórica iniciada em 2012. Um olhar mais detalhado no estudo, porém, mostra que as  graves desigualdades que compõem o perfil do Brasil persistem — nos 10% de domicílios com menor renda, 49,3% desses jovens estão nessa condição, por exemplo — e, para serem superadas, são necessários justamente avanços na educação.

O preconceito racial é outro elemento da desigualdade. Os brancos que não trabalham nem estudam totalizam 3,05 milhões — homens (1,15 milhão) e mulheres (1,9 milhão). Os pretos e pardos  chegam a 7,04 milhões  — 2,4 milhões de negros e 4,64 milhões de negras. O fato de as mulheres negras serem maioria reflete que elas não avançaram nos estudos nem buscaram inserção no mercado de trabalho devido a outras chagas brasileiras, como a obrigação de, desde muito novas, se dedicarem aos afazeres domésticos ou aos cuidados de filhos e parentes.

A geração nem-nem é um dos grandes desafios do poder público. Como levar esses jovens para o banco da escola, uma vez que a realidade que vivenciam é um dos obstáculos e as instituições de ensino não parecem atrativas para muitos deles? Despreparados, eles praticamente não têm condições de acessar as oportunidades do mercado e se limitam à informalidade e às suas restrições. Somam-se a essa paralisia possíveis efeitos na saúde mental e emocional em decorrência da impossibilidade de fazer planos de mudança de vida que são, de fato, viáveis.

O Executivo tem sinalizado preocupação com essa geração. No primeiro semestre deste ano, chegou a discutir soluções para os nem-nem. Entre elas, a de sensibilizar empresas do setor de tecnologia a contratarem os jovens e capacitá-los. O salário seria pago pelo governo federal, tomando como exemplo uma iniciativa anterior voltada aos universitários. A proposta seria inserida no programa Conecta e Capacita, do Ministério da Ciência e Tecnologia, segundo anunciou o jornal O Estado de S. Paulo. 

Mas é preciso mobilizar os setores adequados e capazes de atender às necessidades dos jovens que estão fora da escola e do trabalho. Na última quarta-feira, o CB Fórum, promovido pelo Correio Braziliense e o Serviço de Nacional de de Aprendizagem Comercial (Senac), reuniu autoridades do governo federal e especialistas do setor privado para um debate nesse sentido, a partir do tema Emprego, renda e cidadania: a educação como ferramenta de oportunidade. Os participantes enfatizaram o quanto a educação profissional é essencial para o futuro do trabalho. Criar oportunidades aos jovens, desenvolver programas de formação educacional para empregabilidade e prepará-los para a revolução tecnológica são iniciativas mais do que necessárias. 

O Brasil da pobreza e da extrema pobreza encolheu, respectivamente, 8 milhões e 3,1 milhões, resultado dos benefícios sociais implementados pelo poder público desde o ano passado. É um avanço importante, mas insuficiente. Uma virada de página na realidade nacional depende muito da educação aliada aos  avanços tecnológicos e de políticas públicas inclusivas voltadas especialmente para os jovens. O resultado beneficiará todas as camadas da sociedade, reduzindo as desigualdades, companheiras das injustiças socioeconômicas.

[Editorial do Correio Braziliense, 10/12/2024 || revisado]

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