Respeito é civilidade

 

Imagens da internetIdosos e gays: alvo dos intolerantes, dos mal educados, dos insensíveis humanos sem humanidade nem civilidade


Terrível ver, numa manhã de domingo, nas redes sociais e nos sites de notícias, três jovens debochando de uma mulher que, aos 40 anos, ingressou no curso de biomedicina de uma universidade, em Bauru (SP). Uma cena patética e reveladora do vazio de valores das moças. Poder-se-ia qualificá-las de insensíveis, imaturas... Seria só isso? Será que não têm mãe, pai, avós, tios? Não têm, ou não tiveram, família? A cena é tão ridícula que nos faz supor que o trio não tem uma nesga sequer de educação ou ignoraram, radicalmente, princípios básicos e elementares de convivência. Ao mesmo tempo em que a cena causa indignação, inspira piedade em relação às meninas mal-educadas, etaristas, velhofóbicas, extremamente equivocadas. Será que imaginam que o viço da juventude é eterno? Esquecem que só não envelhece quem morre cedo. Se conseguirem concluir o curso de biomedicina, que profissionais se tornarão? É temerário confiar em pessoas tão preconceituosas.

As agressões gratuitas não são apenas contra os idosos, ou aos que assim sejam considerados. Os discursos de ódio se transformaram em vírus, tão letal quanto a epidemia do coronavírus. Mulheres, negros, indígenas, LGBTQIA e todos considerados, sem qualquer embasamento, "diferentes" sofrem as agruras da violência desmedida, inclusive nas instâncias de poder. Mas os agredidos desenvolveram alto grau de resistência e não se deixam abater facilmente.

Há de se reconhecer que não faltam coragem e personalidade aos homens e às mulheres que se assumem integrantes do segmento LGBTQIA . Antes de tudo são pessoas que, como quaisquer outras, estudam, trabalham, são emancipadas e, principalmente, sinceras e verdadeiras. Não ofuscam nem disfarçam a orientação sexual que têm. Foram e são valentes o suficiente para encarar racistas, misóginos, homofóbicos, etaristas e tantos outros preconceitos, que tentam torná-las não humanas e suprimir o direito a que têm de viver como bem entendem.

Não é fácil encarar e sobreviver numa sociedade nada afável com os ditos "diferentes". Porém, eles são resilientes, têm fibra e caráter que a muitos faltam. Isso não significa que sejam perfeitos. São humanos e cometem erros, falham, sofrem, fazem pessoas sofrer... Nada diferente do que cometemos, muitas vezes, por equívocos, mágoas ou outros motivos. Coisas da vida. Desde que a humanidade existe, as diferenças estão por toda parte, bem como os erros. E o mundo não deixou de ser mundo pela existência dos gays, dos negros, dos povos originários e tradicionais. Pelo contrário, pessoas repudiadas, depreciadas e desrespeitadas têm dado enormes contribuições à sociedade nos mais diversos campos do saber e da cultura. São seres humanos, como seus opositores. E somente por essa razão merecem e devem ser respeitadas.

[Rosane Garcia — texto publicado no Correio Braziliense, em 13/3/2023]

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