Honraria vergonhosa
Praça do Compromisso,onde Galdino foi queimado vivo |
A atrocidade contra Galdino não resultou em nenhuma mudança na forma de relacionamento do Estado com os povos originários, cujas terras foram invadidas pelos colonizadores e continuam sendo alvo da ganância de latifundiários, mineradoras, garimpeiros e desmatadores. Os tímidos avanços estabelecidos pela Constituição de 1988 estão longe de ser realidade. Pelo contrário. Não cessam as tentativas e atos concretos de esbulho dos seus territórios, além de assassinatos e práticas de violência sexual contra mulheres e crianças, drogadição de homens e jovens dos povos originários.
Assim como ocorreu com Galdino, calcinar os povos indígenas por métodos diferentes e substâncias que, necessariamente, não sejam a gasolina, são os métodos atuais. Entre eles, está o envenenamento de rios, lagos e outras fontes de água, que contaminam o corpo, com mercúrio dos garimpos e outros produtos tóxicos, para que a finitude dessas vidas ocorra mais lentamente. As autoridades são omissas, como se indígenas, quilombolas, trabalhadores rurais e outros grupos populacionais não fossem constituídos gente que sente dor, fome, sede, chora a perda de seus entes queridos e tem direitos como qualquer humano.
O tema, apesar de consternar parte dos brasileiros e instituições da sociedade civil organizada, não reverbera na dimensão necessária e esperada. O Ministério Público da União não provoca o Judiciário para uma ação que contenha a marcha de extermínio dos povos originários, com a imputação de penalidades aos órgãos de Estado, responsáveis pelo cumprimento dos mandamentos constitucionais. Segue-se um roteiro inverso, muito próximo do que a história nomeou como holocausto dos judeus. Assim, os inimigos dos grupos tribais são contemplados com honrarias e medalhas pelas suas ações contra a vida.
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