A carne mais barata...

A cada duas horas, 7 jovens negros são mortos
na democracia racial brasileira


 Num pais com mais de 100 milhões de famintos, dois rapazes negros furtam quatro pacotes de carne seca. Um crime que poderia ser enquadrado em ato extremo de famélicos, não pode ser encarado dessa forma, sobretudo, quando os autores são negros. Negros? Sim. Então, não merecem ser levados à Delegacia de Polícia, menos ainda às barras de um tribunal. Com negros, a justiça é feita com as próprias mãos e com selvageria.

Mas não são quaisquer mãos que vão encerrar a vida desses corpos negros. Os empresários não podem sujar as mãos brancas na carne preta de dois jovens da periferia. Isso é trabalho para quem tem intimidade com o crime, traficantes, integrantes de organizações criminosas... Esses, sim, sabem como torturar,
desfigurar e matar, até que o corpo negro se torne imóvel, no seio da senhora Morte.

Os seguranças do Atakadão Atakarejo, em Salvador, não tentaram repetir os atos dos colegas do Carrefour de Porto Alegre, que espancaram e asfixiaram o negro João Alberto Freitas, em 19 de novembro de 2020, às vésperas do Dia da Consciência Negra. Os  baianos optaram por entregar as vítimas para uma organização de traficantes, com larga experiência em sadismo — uma opção, sem risco de flagrante por uma câmera de celular intrusa, cagoete.

Mais dois homens negros mortos, sem contar os que estão fora do radar da imprensa. Não foram os primeiros nem serão os últimos. No país da hipócrita democracia racial,  como canta Elza Soares, "a carne mais barata do mercado é a carne preta" —  mais até do que um quilo de carne seca. Executados por marginais e reexecutados pelo silêncio e pela indiferença do poder público. 

Ljọba tiwantiwa ẹlẹyamẹya gigun! (Viva a democracia racial!, em iorubá)

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