À beira do abismo imensurável

 

Paulo Guedes, conhecido como Posto Ypiranga, onde se encontrava informação e solução para tudo, ficou sem combustível. Fracassou na sua proposta original de reforma da Previdência, que, no fim das contas, foi construída pelo Congresso. Ele, até pouco tempo, o superministro, perdeu poderes. Não tem plano econômico para o país, ante a tragédia causada pelo novo coronavírus. Seus planos, se é que existiam, foram tragados pelo vírus, que jogou holofotes sobre 38 milhões pessoas invisíveis, submersas do mar da indiferença do poder público.  Como no conto de Hans Christian Andersen, o “rei ficou nu”.

O então superministro vem sendo atropelado pelos colegas de ministério e, até mesmo, pelo presidente da República, um ser truculento. Na campanha de 2018, o postulante a inquilino do Palácio do Planalto era contrário à reeleição, repugnava-se com o Centrão — grupo de deputados devedor de explicações à Justiça por atos de corrupção e ações nada republicanas — e insurgia-se contra o foro privilegiado. Tudo mudou na virada do ano.

Hoje, é favorável a tudo a que era contrário dois anos atrás. Guedes perdeu o posto de principal conselheiro. Perdeu o posto para parcela do governo pronta para implodir o teto dos gastos públicos a fim comprar os votos dos menos esclarecidos e incautos (38 milhões de invisíveis) e, assim, assegurar a continuidade do desgoverno autoritário.

O ex-superministro vem sendo pisoteado pela boiada do antiministro do Meio Ambiente que arregaçou a porteira para a passagem da manada de predadores das riquezas naturais da Amazônia, do Pantanal Mato-grossense e dos demais biomas. Os incêndios criminosos afugentam investidores e escancaram o descompromisso do governo com não só com meio ambiente, mas com quaisquer políticas sociais.

O inquilino palaciano tem ojeriza aos mecanismos democráticos, como a participação de representantes dos setores organizados da sociedade na construção de políticas públicas. Extinguiu os conselhos consultivos, amparados pela Constituição Cidadã, para calar as vozes da sociedade.

O discurso liberal se mostrou ineficaz. A economia brasileira faz água. O real é a moeda mais desvalorizada no ranking mundial. Investidores internacionais correm da Bolsa de Valores, em claro alerta que não pretendem investir no Brasil. Repelem a política ambiental do governo, que queima, literalmente, as riquezas naturais do país, para saciar a ganância de grileiros, fazendeiros, garimpeiros e outros tradicionais predadores. O desemprego avança e, hoje, são mais de 13 milhões de brasileiros na Rua da Amargura, nº 17.

O presidente insiste em mentir à opinião pública nacional e internacional. As imagens de satélites são, na sua percepção, fake news montadas por conspiradores brasileiros e estrangeiros para tirá-lo do poder — imaginação sem fronteiras. Enquanto isso, o país caminha a passos largos para um abismo de profundidade imensurável.

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