Cruel e hipócrita democracia racial

Kaué Oliveira, vendedor de sorvetes

Foto: reprodução/Internet
Negro, e só por ser negro, é suspeito, sumariamente, condenado culpado,.após ser agredido ou
abatido pelas forças de segurança. Foi assim com o jovem Kauê Oliveira Francisco (foto), vendedor de sorvete, no último dia 12, acusado, injustamente, de participação em assalto em um posto de gasolina, na cidade de Itapecerica da Serra, em São Paulo. Isso foi racismo, na sua mais vil expressão. Não à toa que, a cada ano, cresce o número de negros abatidos por arma de fogo neste país, onde ainda prevalece a hipócrita e nauseante democracia racial. Os dois amigos do sorveteiro foram executados a tiros pelos policiais, embora nada tivessem a ver com o assalto.

O tecido demográfico brasileiro tem fios de quase todas as nacionalidades e etnias deste mundo: negros, brancos, amarelos, indígenas nacionais e de quase todos os continentes. Mas não faltam ignorantes que acreditam em supremacia branca no Brasil — demonstração inequívoca de vergonhosa estupidez.

O jovem Kaué foi preso e as cenas da sua detenção, exibidas pela tevê, mostram o quanto falta aos policiais uma formação adequada, para que não sejam confundidos com as espécies irracionais.  O rapaz foi agredido com socos, pontapés, coronhadas e humilhado. O mesmo não aconteceria com um jovem branco. Não. Para os brancos, o tratamento é outro, ainda que sejam marginais de altíssima periculosidade.

A análise dos vídeos comprovou que Kauê e seus amigos eram inocentes. Ele foi libertado na quarta feira (16/10), porém é vítima da selvageria do poder público. E aí o que acontecerá com os torturadores? Não venham com a esfarrapada desculpa de que a brutalidade policial decorre do estresse e tensão da atividade que exerce — não é isso,  mas, sim, obediência à orientação de uma política de Estado. "Quem não pode com a mandinga não carrega patuá", ensina uma toada de preto-velho da Umbanda, a minha prática de fé. Assim, se os policiais não têm inteligência emocional para a atividade que exercem, que sejam excluídos da função de policiamento ostensivo nas ruas.

Depois de agredirem o jovem Kaué, os policiais seguem empregados, recebendo salários como se suas ações fosse merecedoras de medalhas e aplausos. É assim que o Brasil trata quem não tem a pele branca. O abate de negros está explícito no discurso dos mandatários, nas esferas municipal, estadual e federal. São poderosos que comemoram o "abate" de um homem insano. Temos um processo de genocídio de negros e índios em curso, e um Legislativo e um Judiciário de costas para a matança diária que ocorre no Brasil pelos agentes de segurança do poder público. No Brasil, dos mais de 65 mil mortos por arma de fogo, em 2017,  75,5% eram negros.

Negro é alvo do tratamento das senzalas e pelourinhos. No século 21, o Estado tem mentalidade, ações e políticas públicas de meados do século 16, quando aqui aportaram mulheres, homens e crianças sequestradas na África para iniciar os sucessivos ciclos de riqueza, com a exploração predatória do território nacional. Ainda hoje é assim. E pior: temos um Congresso complacente com  esses desmandos e um Judiciário apático às injustiças sociais e cheio de energia para criar artifícios que libertem os brancos corruptos e culpados por outras graves infrações penais.

Comentários

Postagens mais visitadas