Brasil no banco dos réus na Corte Interamericana de Direitos Humanos
Povo Xukuru: luta pelo direito à terra na Serra do Ororubá, em Pesqueira (PE) | Foto Fernando Figueiroa |
A corrupção na política brasileira é tamanha que não sobra espaço nos veículos de comunicação para tratar das questões sociais que afligem as populações originárias do país. Na terça-feira, o Brasil está no banco dos réus da Corte Interamericana de Direitos Humanos, na Cidade de Guatemala, por graves violações aos direitos do povo indígena Xukuru, de Pernambuco. O resultado do julgamento só será conhecido em abril.
Desde 1989, os índios
lutam pela demarcação de sua terra tradicional na Serra de Ororubá, em
Pesqueira (PE). No conflito pela posse da terra com os posseiros, cinco índios
foram assassinados, entre 1992 e 2003. O cacique Marcos Xukuru foi vítima de um
atentado.
A denúncia da
violência contra os xukurus foi denunciada em 2002. Em 2015, a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos concluiu que o Estado brasileiro é
responsável pelas violações de direitos do povo Xukuru e fez recomendações que
foram ignoradas pelo governo brasileiro.
"Esse julgamento
traz a possibilidade de uma reparação histórica do processo de luta do povo
pela demarcação, que custou muitas vidas", declarou o cacique Marcos
Xukuru.
A área está demarcada
em favor do povo Xukuru, mas o Estado brasileiro não fez a retirada dos
invasores. O descaso com do poder público com os xukurus é emblemático do que
vem ocorrendo com os povos indígenas do país, submetidos à violência dos latifundiários
e de outros setores da sociedade.
Mais recentemente, o
então ministro da Justiça Alexandre de Moraes, que ontem (22) tomou posse como
ministro do Supremo Tribunal Federal, baixou uma portaria para a revisão das áreas
indígenas demarcadas. A iniciativa causou profunda reação entre as instituições
voltadas à proteção dos povos originários. Moraes recuou, mas manteve a criação
de uma comissão, no âmbito do ministério, para revisar os processos
demarcatórios produzidos pela Fundação Nacional do Índio (Funai).
A iniciativa está em
sintonia com a bancada ruralista do Congresso Nacional que, há tempos, tenta
reduzir as terras tradicionais dos povos indígenas do país, a fim de confinar
as comunidades em restritos espaços, visando a expansão das atividades
mineradoras e agropecuárias, dentro de um processo genocida dos povos
originários do país.
Em 2015, ocorreram 54 assassinatos de índios, sendo 9
vítimas na faixa etária entre 9 e 17 anos, acordo com o relatório anual do
Conselho Indigenista Missionários (Cimi), ligado à Igreja Católica. Mandantes e
executores estão impunes.
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