Desabafo: Legisladores da impunidade
Casas de pouca luz: império do obscurantismo |
A maioria dos brasileiros é péssima na hora de votar.
Com raríssimas exceções, elegem-se candidatos desonestos, que buscam chegar ao
parlamentar para dar continuidade, com foro privilegiado, às falcatruas que
cometem. Reportagem de um jornal carioca (10/4) mostra que tramitam no Congresso mais
de 500 proposições voltadas ao combate à corrupção. Engana-se quem imagina que
a finalidade seja realmente coibir o crime. Não. A maioria é para reforçar
esquemas de salvaguardas aos parlamentares e dificultar que sejam alcançados
pela lei.
Maior do que o inferno é a burocracia imposta aos
trâmites das proposições apresentadas por deputados que compõem o minoritário
grupo dos honestos dentro do parlamento. Os marginais, ali com assento,
bloqueiam todas as iniciativas que facilitariam a punição dos corruptos —
legislam em causa própria sem o menor pudor, mesmo porque pudor é atitude
descartada da folha corrida que os acompanha.
A responsabilidade por tamanhos descalabros é do
brasileiro, que, sem muita dificuldade, se deixa seduzir pelo palavreado
florido dos que postulam uma cadeira no parlamento. A melhor ilustração é o
fato de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, comandar o movimento
pró-impeachment da presidente Dilma Rousseff, contra quem não há provas de
envolvimento no esquema de corrupção implantado desde meados da década de 1990
na Petrobras.
As investigações da Lava-Jato mostraram os obstáculos
para que as pulseiras de aço sejam colocadas nos punhos do presidente da
Câmara, Eduardo Cunha, que desviou milhões em propina para bancos suíços, tendo
a mulher e a filha como parceiras do crime. O instituto do foro privilegiado se
estendeu às cúmplices, que, em situação normal, estariam trancafiadas em
Curitiba, por ordem do juiz Sérgio Moro.
Inexplicável a regalia dispensada a Eduardo Cunha. Ela
só é entendida ante o elevado número de parlamentares envolvidos nos esquemas
fraudulentos que subtraem bilhões dos cofres públicos para construção da
própria riqueza. Eles estão a postos no Conselho de Ético para executar todas
as manobras do capu di tutti capi tupiniquim.
Mas a mulher e a filha de Eduardo Cunha? O que impede
a Justiça de alcançá-las, como o fez com os outros envolvidos no mesmo esquema
instalado na petrolífera? A resposta é cobrada diariamente pela sociedade, mas
a Justiça, assim como os réus, faz uso do direito de permanecer calada.
Grandes são as possibilidades de as 10 proposições
apresentadas pelo Ministério Público Federal, apoiadas por 2 milhões de
cidadãos que as subscreveram, terem o mesmo destino das mais de 500 que
tramitam no Congresso. Ficaram reclusas em gavetas, trancafiadas pelo submundo
criminoso que manieta as ações legislativas.
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