O que será o amanhã?


Por Rosane Garcia 

Em junho de 2013, um aumento de R$ 0,20 na passagem de ônibus desencadeou inusitada onda de protestos em São Paulo. As manifestações se alastraram por várias capitais e bateu à porta do poder central em Brasília. As autoridades e a maioria das pessoas ficaram atônitas frente ao grau de violência, que impôs enormes perdas ao patrimônio público e privado pelas ruas da capital paulista, no Rio de Janeiro, em Salvador, entre outras cidades. A ação, capitaneada pelo Movimento Passe Livre, foi contaminada por vândalos, black blocs e organizações criminosas.

No rastro da repulsa ao reajuste, o Movimento Passe Livre ampliou a pauta de reivindicação. Não bastava congelar a tarifa do transporte público. Exigiu catraca livre para todos. Cobrou a reforma política, a fim de mudar uma prática, do ponto de vista do grupo, questionável, de relação entres os poderes e entre eles e a sociedade e um combate mais agressivo à corrupção.
 

Essas cobranças reforçaram a proposta de convocação de uma assembleia constituinte exclusiva para modificar as regras do jogo político e eleitoral. O intuito era eliminar a influência do poder econômico sobre a vontade popular.O impacto das manifestações de junho de 2013, que duraram várias semanas, chegou à campanha eleitoral deste ano. Muitos candidatos rechearam o discurso com a alegação de que era preciso incorporar as demandas dos jovens à formulação das propostas.
 

Diante da proximidade das eleições, havia uma expectativa de que a reivindicação por mudanças levada às ruas impactaria nas urnas e o resultado seria uma profunda renovação do Congresso Nacional, com a escolha de representantes dos setores mais progressistas da sociedade. Esperava-se uma renovação que reproduzisse a exigência por expansão das conquistas sociais e econômicas.
 

Mas das urnas emergiu um resultado absolutamente inverso ao esperado. No Distrito Federal, segmentos considerados reacionários ampliaram espaço tanto na Câmara Legislativa quanto na formação da representação federal. No conjunto do Congresso Nacional, os fundamentalistas e os latifundiários ganharam força, o que torna a Casa do Povo excludente. Esses grupos têm uma pauta totalmente divergente da que os jovens cobraram em junho de 2013. A partir de 2015, as possibilidades de frustração estão potencializadas. 

Na pauta social, estão represados temas importantes, como o trabalho escravo, a legalização da união homoafetiva, o combate mais rigoroso às diferentes expressões de intolerância étnica, religiosa e de gênero e muitos outros. O que será o amanhã?

 (Artigo publicado na edição de hoje do jornal Correio Braziliense/Editoria de Opinião)

Comentários

Postagens mais visitadas