Padrão Brasil de qualidade

Por Rosane Garcia

As manifestações contra a Copa do Mundo refluíram. À medida que a bola rolou no gramado, a paixão nacional pelo futebol inibiu a onda de protestos violentos que antecedeu ao Mundial. A convocação de voltar às ruas perdeu sentido diante da disposição dos brasileiros de acompanhar os jogos, aproveitar as folgas, vestir uma fantasia e usufruir a festa inspirada no esporte. Talvez, inconscientemente, a maioria percebeu que o torneio não é o responsável pela má qualidade dos serviços públicos de saúde, de educação, de transporte e outros.
Não foram os investimentos feitos nas arenas ― descontados eventuais desvios ou abusos ― que impediram o avanço de programas sociais. Os motivos são outros e, em grande parte, estão atrelados ao descompromisso de gestores públicos, à corrupção, à impunidade e a outros fatores que, historicamente, sempre comprometeram o bom desempenho do setor público.  Embora tenhamos acumulado conquistas nos últimos anos, falta muito para alcançarmos o nível de excelência e de universalização que a sociedade brasileira merece na saúde, na educação, no transporte e em várias áreas que são indicadores de qualidade de vida.
Se o Brasil conquistar o hexacampeonato, o que tornará real o desejo ardente dos torcedores brasileiros e reforçará o título de país do futebol, não reverterá a realidade nacional. Passada a festa, estaremos frente a frente com os problemas que tornam o cotidiano da maioria das pessoas muito difícil. As mudanças reivindicadas exigirão de todos um exercício diário de cidadania. Talvez voltar às ruas para pressionar os poderes seja uma via natural.
Mas estamos a quatro meses das eleições de outubro, um momento auspicioso para indicarmos os integrantes dos times que ocuparão posições estratégicas nos legislativos e nos executivos estaduais e federal. Vitórias ou derrotas dependem, em grande parte, das escalações que fizermos. Até lá, teremos tempo de observar e identificar, entre os que se candidatam às vagas disponíveis, aqueles que são realmente comprometidos com os anseios da maioria e capazes de tornar o nosso país um padrão de referência de qualidade de vida entre as nações.
[Artigo publicado na edição de hoje do jornal Correio Braziliense]

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