Brasília, a cinquentona alquebrada



Uma semana de pesadelos. Brasília sofre e sangra intensamente desde segunda-feira. Uma criança morreu tragada pelo bueiro, em Planaltina. O espaçamento entre a tampa do bueiro e o asfalto é grande o suficiente para passar um corpo frágil, ainda em formação de um pequenino, com 6, 7 ou 8 anos. 

A administração da cidade lamentou e, pateticamente, se disse impotente para dar uma solução, pois não poderia colocar grades na abertura do fosso que leva à morte. Como assim? A abertura permanecerá lá, à espera da próxima vítima, que não será filho de nenhuma autoridade, pois ele não retornará a pé da escola, nem terá que enfrentar os riscos de uma enxurrada.

Um jovem, indignado com o tráfico e usuários de crack, foi espancado até a morte. Ele apelou à segurança pública para coibir o crime recorrente diante da sua residência. Não foi atendido. Decidiu, inadvertidamente, dar um basta ao incômodo e encontrou a morte de forma brutal e selvagem. E aí se pergunta: Por onde andam as rondas ostensivas da polícia? Estão a serviço da insegurança pública?

O jovem de 28 anos. A professora no Parque da Cidade. A mulher atropelada na faixa de pedestre por um veículo do transporte público. A lista não tem fim. Um mosaico de tragédias colocam o brasilense contra a parede, e ele se pergunta: "A quem recorrer?" Não sabe. 

À véspera de completar 53 anos, Brasília parece uma senhora alquebrada, frente à longevidade média do brasileiro, que hoje ultrapassa dos 70, e desamparada pelo poder público. A cidade patrimônio cultural da humanidade, com cartões-postais editados arquitetonicamente pelo mestre Oscar Niemeyer, está sofrida. Um olhar mais atento às edificações revela o quanto estão enrugadas pelo tempo. 

A beleza da Brasília cinquentona está carcomida, descuidada. Suas células — as pessoas — padece pela falta de saúde, educação, segurança. As artérias — via públicas — estão fragilizadas pelos buracos, e entupidas em vários pontos — os engarrafamentos infernais. O vestuário — os multicoloridos jardins —  está diminuindo pelo avanço das edificações destoantes do projeto original. Do solo emergem arranha-céus, que criam barreiras para a visão do horizonte. Ao seu redor, a pureza do ar foi comprometida pelo avanço desmedido das invasões, favelas e miséria, para as quais o olhar do poder público não alcança. 

Assim, vale lembrar as palavras de Juscelino Kubitschek, o criador de Brasília e que sonhou um destino diferente para a capital da República:
"Deixemos entregues ao esquecimento e ao juízo da história
os que não compreenderam e não amaram esta obra"

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